A [quase] frase da Magia
Os irmãos da Magia deram-lhe, no Natal, uma caixa com letras maiúsculas magnéticas e um quadro magnético, preso à tampa da própria caixa - muito prático e giro.* A Magia adorou e tem-no usado com fartura desde que o recebeu.
No dia 27, de manhã, a certa altura, a Magia disse-me que "não podia olhar para ali [o quadro magnético, onde estava a escrever]". Passado um bocado, perguntou-me que letras vinham a seguir ao "M", para escrever "muito". Eu disse-lhe as letras sem verificar se as tinha colocado bem.
Quando terminou, a Magia mostrou-me o que tinha escrito:
Tradução: "A minha mãe é muito querida."
Fiquei derretida. Dei-lhe um abraço e confirmei, depois de fotografar:
- Tentaste escrever "A minha mãe é muito querida.", não foi?
Magia: Sim.
Eu [mãe-professora em ação]: Mas olha, em "minha" falta uma letra...
Magia: Ah, pois é!
Acrescentou o "A" a seguir ao "H".
Eu: E consegues ver o que está mal em "mãe"?
Magia: Sim, estas [apontando para as vogais] estão trocadas.
Corrigiu "mãe", deixando o til [improvisado - uma vez que a caixa, sendo "inglesa", não tem acentos nem cedilhas. O til é a parte de dentro de uma letra "A" e o acento em "É" é a parte de dentro de uma letra "O".] em cima da primeira vogal, neste caso o "A".
Eu: "Querida" é mais difícil... Usaste o "C" por causa do som em "casa", "cama",... , não foi?
Magia: Sim.
Eu: Pois, só que o "C" antes do "E" tem o som "SS", como em "cenoura" ou "cebola". Para ser "que" tem de ser outra letra.
Magia: O "Q"? [Troca logo o "C" pelo "Q".]
Eu: Sim, o "Q". Só que o "Q" tem um gémeo, quer dizer, anda sempre agarradinho a outra letra, o "U", que nesta palavra não se ouve. Não dizemos "qu-erida", pois não?
Magia, rindo e colocando o "U" entre o "Q" e o "E": Não!
Duas das características que mais me agradam na Magia são a sua disponibilidade para aprender e o facto de não ficar melindrada quando lhe mostramos que alguma coisa que fez não está bem.
Parte de mim acha que podia não ter dito nada. Podia, claro. Não fazia mal, porque a Magia ainda tem muitos meses pela frente antes de começar o 1.º ano de escolaridade. A outra parte de mim, a que dificilmente resiste a corrigir "erros" e que falou mais forte na altura, acha que não prejudicou nada a Magia, porque não foi uma correção "castradora", mas sim um incentivo a fazer melhor (e a criar as sementes do hábito de rever sempre o que se escreve...). O que vos parece?
*O Rogério não gostou porque não gosta de ímanes (suponho que a razão se prende com o mal que podem causar a alguns aparelhos - eu, como não percebo nada disso, na minha ignorância gosto bastante de ímanes, especialmente para prender coisas ao quadro, numa sala de aula.)