30 Dias de Gratidão - Dia 11
Um feito de que estou orgulhosa
Dia 11
Um feito de que estou orgulhosa
Não é um feito só meu, se calhar não é sequer um feito maioritariamente meu, mas é um feito que sinto muito como meu. Por isso, cá vai:
Sinto orgulho na forma como os meus filhos todos se adaptaram à creche e, mais tarde, ao Jardim de Infância. Como continuaram na mesma escola, a passagem para o 1.º Ciclo e para os Ciclos seguintes (a Vassoura, que é a mais velha, está no 9.º ano) não "conta", digamos assim, neste feito, pois há um grande papel da Escola nas várias passagens (do 2.º para o 3.º Ciclo nem há qualquer necessidade de passagem especial, só mudam algumas disciplinas!).
Como professora, já testemunhei comportamentos de mães/pais/E.E. que em nada ajudaram a adaptação dos filhos ao 1.º Ciclo (que é o nível de ensino onde trabalho há mais de 20 anos).
Também testemunhei em colegas professores (vou assumir: em colegas professoras apenas), que ao longo dos anos foram tendo filhos que entraram para a escola (creche e/ou J.I.), comportamentos que - na minha opinião, claro - tinham efeito negativo na adaptação das crianças.
Um desses comportamentos (se calhar o que mais vezes testemunhei) era o de não levarem as crianças todos os dias à escola. Como tinham alguém (normalmente uma avó, ou uma empregada) disponível para ficar com a(s) criança(s - tive várias colegas com gémeos) e, quando a criança ia à escola, ficava a chorar, optavam por deixar a criança em casa. Helloooo! Quanto mais vezes fizerem isso, mais vezes a criança vai chorar, para mais vezes ficar em casa! As crianças raramente deixam passar uma oportunidade de "controlar" o que lhes acontece...
Outro comportamento (de que só me lembro uma colega ter tido, sou honesta) tinha a ver com a comida. A criança, de três anos, recusava comer na escola (J.I.). O que é que a mãe fazia? Saía da escola do 1.º ciclo, onde trabalhava, ia a correr buscar a criança, levava-a a casa, dava-lhe almoço (e almoçava também, claro) e, no caminho de regresso à nossa escola, para as aulas da tarde, deixava a filha na escola dela. Esta colega queixava-se da canseira que era aquela correria à hora de almoço. Já não me lembro bem quanto tempo durou a canseira, mas não foi uma coisa de dias, foi de semanas ou meses! Nós (o "nós" era constituído por professoras com filhos crescidos, uma professora com filhos pequenos e uma professora sem filhos, mas com vários sobrinhos e longa experiência como babysitter - eu) dizíamos-lhe para explicar à filha que não poderia continuar a ir buscá-la. Ela respondia que não podia deixar a filha sem comer. Nós retorquíamos que a filha não iria ficar sem comer, primeiro, porque havia refeições que comia em casa, e, segundo, porque a filha não era parva e, se percebesse que não adiantava não comer (isto é, que não conseguiria que a mãe fizesse o que ela queria através da fita na escola), ela passaria a comer na escola. Quando a mãe finalmente se convenceu que era o melhor que tinha a fazer (porque aquela correria estava a deixá-la exausta e stressadíssima), a questão ficou resolvida em dois ou três dias.
Este tipo de comportamento parental, em que deixamos que a criança decida (porque é disso que se trata!) o que não lhe compete a ela decidir, só vai dificultar a vida aos envolvidos: criança, pais e educadores/professores.
Atenção que todo este discurso se aplica a contextos em que não há problema do lado da escola, isto é, em que a criança é bem tratada, apenas está a ter alguma dificuldade em aceitar a nova realidade. Conheço um caso, de há uns anos, em que era suposto a criança, no fim da licença parental inicial da mãe, ir para uma ama, que morava perto da casa dos pais, já não me lembro se por recomendação de algum conhecido. Se não me falha a memória, no primeiro dia em que a mãe levou a criança, para lá ficar um bocadinho, foi incapaz, pelo que viu, de deixar lá o filho. Reparem que não apareceu sem avisar: apesar disso, a casa estava visivelmente suja e com poucas condições. Contou-me a mãe, a propósito do que viu, que tinha decidido, ali, na hora, que preferiria mandar o filho para longe, para casa da mãe dela (noutro país!) do que ter de o deixar naquela casa, com aquela ama. A situação acabou por terminar bem, porque a criança foi para uma creche (com J.I.) e passou lá os anos todos até entrar para o 1.º ano de escolaridade. E não era esquisitice da mãe, pois deixou sem problemas o filho na creche, desde o início, e ele teve uma ótima (e rápida) adaptação.
Para terminar, uma nota: há crianças que só choram porque os pais (sobretudo as mães) precisam que eles chorem. Por ridículo que possa parecer, é verdade. As mães ficam à espera e não se vão logo embora, na expectativa de confirmar que o/a filho/a gosta muito dela, e por isso é que chora. Uma curiosidade a propósito disto: dizem as educadoras e auxiliares da escola da Magia que nunca houve tão pouco choro nos grupos dos 3 anos... Pudera, os pais são obrigados a entregar as crianças à porta do corredor e a irem-se logo embora!!! Sem público, os miúdos vão chorar para quê?