A minha primeira viagem a outro blogue
Por causa do desafio "À descoberta dos bloggers", de que já falei anteriormente, participei pela primeira vez com um texto, em blogue alheio. As honras de tal acolhimento couberam ao Triptofano.
Escrevi sobre a minha experiência como utilizadora de aparelho nos dentes. Podem lê-la, com a devida introdução do anfitrião, aqui.
Se quiserem despachar a leitura sem introdução, eis o meu texto:
"Eu nasci sem dentes (não se riam, há quem nasça com dentes!). Desconheço que idade tinha quando me nasceu o primeiro dente, mas é irrelevante para esta história.
A dentição de leite ficava-me bem. Devia ter-me ficado por ela – pelo menos os dentes de leite cabiam todos na minha boca – e direitinhos, lindos!
Assim que começou a dentição definitiva, deu para perceber que a coisa não iria correr bem… Ainda hoje lamento o tamanho dos meus incisivos de cima (quando estou mais desanimada, acho que parecem dentes de coelho, embora não sejam tão grandes quanto os dos coelhos – é, no entanto, um facto que eu gosto muito de cenoura crua, qual Bugs Bunny…).
Dentes encavalitados, num chega-te para lá entre uns e outros, levaram a que se tornasse evidente a necessidade de usar aparelho. Andava eu na 4.ª classe (hoje em dia seria o 4.º ano). Foi preciso fazer um molde. Coisa horrível, aquela pasta cor-de-rosa que me enfiaram na boca para ficarem com uma réplica da minha dentição e poderem decidir como deveria ser o aparelho, onde deveria apertar, etc..
Lembro-me muito bem da minha fala nos primeiros tempos do aparelho: esquisita, muito esquisita! Mas uma pessoa habitua-se a ter aquilo na boca e aos poucos começa a falar melhor.
Nesse ano, uma das minhas colegas – a que morava mais perto da minha casa – fez uma grande festa no seu décimo aniversário. A festa incluía almoço. Ora, eu tinha a recomendação de tirar o aparelho antes de comer (pelo menos na refeições principais) e foi o que fiz. Infelizmente, não me tinham arranjado nenhuma caixa para guardar o aparelho, de modo que o embrulhei num guardanapo de papel e coloquei onde não me esquecesse dele.
A seguir ao almoço houve brincadeiras e jogos no exterior da casa. Tudo muito divertido. Até que me lembrei do aparelho. O sítio escolhido afinal não tinha sido assim tão boa ideia. Fui falar com a mãe da minha amiga, a anfitriã. A mesa já tinha sido desmanchada, e nada de aparelho! Concluímos que o aparelho, embrulhado em papel de guardanapo, tinha sido confundido com lixo. O lixo estava em caixotes, num canto do quintal. Nesta altura já havia outras pessoas envolvidas na busca do aparelho. Esvaziámos os caixotes e vasculhámos o lixo. Sim, graças a mim, uma das atividades realizadas na festa de anos da minha amiga foi a caça ao aparelho – um jogo divertidíssimo, que ninguém ganhou. Nada de aparelho no meio do lixo.
Nisto, alguém diz: “O aparelho não será isto?”, apontando para um embrulho colocado numa prateleira de um armário. Era. Final feliz para uma história de lixo aparelho!
A história que contei não foi a única aventura que vivi graças ao aparelho dos dentes. (Digo “o” aparelho, mas com o crescimento o aparelho teve de ser substituído, uma ou duas vezes.)
Quando andava no sétimo ou oitavo ano, ainda usava aparelho. No verão, estive numa colónia de férias. Era um local muito giro – e enorme. Numa tarde, depois de almoçar, voltei a esquecer-me de colocar o aparelho na boca. Eu e outras colegas, vigiadas por uma monitora, fomos jogar ao mata para uma zona de pouca (ou nenhuma) circulação de pessoas. O sítio ideal para jogar ao mata, sem incomodar ninguém.
Faço aqui um aparte, para dizer que gostava de jogar ao mata, mas que não tinha jeito nenhum para “matar” – a minha especialidade era não ser morta. Muitas vezes era a última da equipa a morrer, o que fazia de mim uma peça chave para evitar a derrota. Só nessas alturas é que eu me fartava de saltar para apanhar a bola, já que garantidamente era para mim que os restantes elementos da equipa a atiravam.
Voltando à tal tarde, depois do mata fomos lanchar. Deve ter sido nessa altura que me apercebi que não tinha posto o aparelho. Lembrei-me que o tinha colocado no bolso da túnica. Não estava lá. Fui então falar com a monitora que nos tinha acompanhado durante o jogo do mata. Expliquei-lhe a situação. Ela foi comigo ao local do jogo procurar o aparelho. O chão era escuro, não me lembro se de alcatrão, se de pedras, e primeiro parecia que não iria encontrar nada. Depois encontrei o aparelho… aqui. Ali. Além. Acolá. Um bocadinho em todo o lado.
Explicitando o que é evidente: durante o jogo do mata, o aparelho saltou para fora do bolso sem ninguém dar por isso e foi pisado por sabe-se lá quantas pessoas até se tornar parte do chão…
Recolhi os pedaços de aparelho que encontrei. Final dramático para uma história de lixo aparelho!
O mais espantoso disto tudo? Não me lembro de ser repreendida pelos meus pais, quando lhes contei o que aconteceu. Não me estou a ver a ser assim tão compreensiva. É que a Varinha vai usar aparelho. Já fez o molde dos dentes e tudo. Mas, pelo sim, pelo não, se o aparelho não vier com uma caixa própria, vou arranjar-lhe uma. Talvez se possa evitar cenas tristes… (e poupar uns bons €)."