Com a verdade me (nos) enganas...
Na marcha/manifestação do passado sábado, foi, a certa altura, referido o caso de uma professora que se reformou ainda como contratada.
- O quê? - perguntei eu, espantada, mal acreditando no que ouvia.
- Sim, é verdade! - respondeu-me uma colega do meu agrupamento, ali ao lado.
"Como é que é possível?", fiquei eu a pensar. "É vergonhoso!..."
A minha reação foi provavelmente a de muitos. [Era certamente o efeito desejado por quem pronunciou as palavras.]
Depois, pus-me a pensar em hipóteses, em circunstâncias que poderiam ter levado a que uma professora pudesse chegar à idade da reforma e reformar-se, sem chegar a ser de um quadro, se não de um agrupamento (QA), pelo menos de uma zona pedagógica (QZP).
E uma hipótese surgiu, simples, tão simples e tão "sem culpa" para o ministério que até me deixou um bocado irritada... É aquele género de "com a verdade me enganas", que é algo que me desagrada, confesso. Mesmo que seja de alguém do meu lado da barricada.
Imaginemos uma carreira docente de 40 anos (dura mais, mas imaginemos que durava 40 anos).
Imaginemos uma professora, feliz e contente, (ou nem por isso...) a trabalhar num colégio particular ano após ano. Está relativamente perto de casa, o ambiente é razoável, deixa-se ficar.
Após 39 anos de serviço, decide concorrer para uma escola pública. Concorre como docente externa (não pertencente a nenhum QA ou QZP), atrás de todos os professores que já pertencem a um quadro. De todos os docentes externos, está muitíssimo bem posicionada e rapidamente arranja colocação numa das muitas vagas que há sempre no arranque do ano letivo. Ao fim desse ano, completa o tempo de serviço necessário para se poder reformar e "mete os papéis para a reforma". Assim, reforma-se como "docente contratada"... e é muito justo que assim seja!