How I met your father - Episode 21 - The internal conflict
Kids,
Desculpem a minha ausência (se por acaso deram por ela)...
Fiquei de vos falar sobre o meu discernimento vocacional. Não é fácil escrever sobre ele, acho eu, mas veremos.
«Desde pequena que soube que queria casar e ter filhos.» - contei isto no primeiro episódio. Ora, lendo isto, fica-se talvez com a ideia que o meu discernimento vocacional foi bastante claro, desde cedo. E foi, mas ao mesmo tempo não foi.
Se, aos vinte e quatro anos, por exemplo, eu tivesse encontrado o meu «príncipe encantado» (e ele, em mim, a sua «princesa»), mesmo sem ter namorado antes, não teria tido grandes dúvidas que era essa a minha vocação. Afinal de contas, sempre quisera casar e ter filhos, e ali estava a confirmação e concretização desse desejo interior.
Mas não foi assim que aconteceu. Como já vos contei, eu fui gostando e gostando sem nunca ser correspondida. A quem se interessou por mim, fui eu que não correspondi. À minha volta, as minhas amigas foram namorando e casando, e eu, nada.
No entanto, embora não visse acontecer na minha vida o que tanto desejava, eu não abria o coração a outra possibilidade. Deus podia ter pensado noutra forma de eu ser feliz, mas, durante anos, eu recusei determinantemente pôr sequer a hipótese de vir a ser freira. Não porque achasse que não se pudesse ser feliz assim, mas porque não queria prescindir daquilo que sempre desejara.
À minha volta, nem toda a gente namorava e se casava, na verdade... Quando eu tinha vinte anos, a minha irmã Margarida, que sempre teve uma relação de proximidade com Deus e nunca teve qualquer vontade de namorar ou casar, e que era professora, rescindiu o contrato com o Ministério da Educação e entrou para um convento de Clarissas. Esteve lá um ano e acabou por vir-se embora. Não era ali o seu lugar. Recomeçou a dar aulas (primeiro como contratada, mas não demorou muito a voltar a ficar efetiva). Alguns anos depois, foi com umas amigas (da sua comunidade neocatecumenal) a um retiro num mosteiro, durante o mês de agosto (é um mês evangélico). Veio de lá encantada e convencida que a sua vocação era consagrar-se a Deus, naquela ordem concreta (Família Monástica de Belém, da Assunção da Virgem e de São Bruno, conhecidas sinteticamente por Monjas (e Monges) de Belém). Não havia mosteiros daquela ordem em Portugal, naquela altura (existe um, na presente data). A minha irmã Margarida voltou a rescindir o contrato com o Ministério da Educação e foi para o mosteiro onde tinha feito o mês evangélico, nos Monts Voirons (França, perto da Suíça). Voltou após seis meses e, desta vez, com a certeza que a sua vocação não era a de uma vida consagrada.
Eu testemunhei a vivência da minha irmã sem nunca me sentir chamada a fazer um retirinho que fosse. Havia, além dos retiros de agosto, uns retiros - na mesma família monástica - bem mais curtos e bem mais perto: num mosteiro em Sigena, Espanha. Várias raparigas das comunidades neocatecumenais fizeram esses retiros, inclusive uma da minha própria comunidade que também se questionava acerca da sua vocação (embora estivesse convencida, tal como eu, que casar e ser mãe é que era para si, como via o tempo passar sem que se concretizasse, abriu o coração a outra possibilidade e fez o retiro em Sigena, tendo vindo com a confirmação da sua vocação para o matrimónio).
Em 2003, com trinta anos, dei um passo importante. Poderão descobrir qual (ou confirmar as vossas suspeitas) no próximo episódio.
Season 2, episode 10 (ep. 22)